“O Poderoso Chefão II”: 50 anos de um épico sobre poder, legado e destino
Sequência clássica mergulha em um abismo de culpa, paranoia e solidão.
Por LockDJ
Publicado em 18/07/2025 14:55 • Atualizado 18/07/2025 14:56
Entretenimento
Al Pacino interpreta Michael Corleone em O poderoso Chefão II (Foto: Divulgação)

Há meio século, em 1975, O Poderoso Chefão – Parte II chegava aos cinemas carregando o peso de ser a continuação de um dos filmes mais cultuados da história. O que poderia ter sido apenas uma extensão comercial, revelou-se uma obra-prima autônoma. Dirigido por Francis Ford Coppola, com roteiro assinado por ele e Mario Puzo (autor do romance original), o longa expandiu o universo mafioso da família Corleone de maneira ambiciosa, melancólica e estruturalmente inovadora: ao intercalar duas narrativas — a ascensão de Vito Corleone, interpretado por Robert De Niro, e o império de seu filho Michael, vivido por Al Pacino — criou-se um espelho sombrio entre herança e destino.

 

A Parte II não apenas sobreviveu ao peso do primeiro filme, mas foi além. Se O Poderoso Chefão (1972) era uma ópera sobre honra e família, a sequência mergulha em um abismo mais íntimo: culpa, paranoia, solidão. A América do pós-guerra, com seu brilho de oportunidades e corrupção silenciosa, serve de pano de fundo para um estudo de personagem que rivaliza com a literatura clássica. O Michael de Pacino é Hamlet sem monólogos — silencioso, gélido, tragicamente previsível.

 

Cinquenta anos depois, a força do filme permanece intacta. O uso de luz e sombra de Gordon Willis (apelidado “Príncipe das Trevas”), a trilha de Nino Rota com suas melodias fúnebres e evocativas, a direção contida de Coppola e o elenco afiado, fazem de O Poderoso Chefão II não só uma continuação impactante, mas um marco na história do cinema narrativo.

 

A trilogia como arte política e poética

 

Rever a trilogia, hoje, é mais do que revisitar uma saga de mafiosos: é testemunhar uma alegoria sobre o poder americano, suas contradições e sua face oculta. A trajetória dos Corleone dialoga com Maquiavel, Shakespeare e Faulkner. Não à toa, as falas do patriarca Vito Corleone, suas máximas sobre negócios e lealdade, migraram da tela para o inconsciente coletivo. A figura do mafioso, antes marginal e caricata, passa a ocupar o centro simbólico da família, da moral e da ruína.

 

Se a Parte I é o nascimento do império, e a Parte II é sua expansão e degradação emocional, a Parte III (lançada em 1990) é o lamento tardio, o envelhecimento, a tentativa de redenção impossível. Embora menos celebrada, carrega momentos de densidade simbólica — especialmente na famosa cena final em que Michael, só, envelhecido, morre sem ninguém por perto. Como na tragédia grega, o fim do herói se dá sem glória.


Impacto na cultura pop e legado

 

A trilogia O Poderoso Chefão transcendeu o cinema. Tornou-se referência estética, narrativa e simbólica. Expressões como “fazer uma oferta irrecusável” ou “negócios, não é pessoal” foram assimiladas pelo cotidiano, pelo marketing, pelos discursos políticos. A série inspirou tudo: de paródias como Os Bons Companheiros e Os Sopranos a análises acadêmicas sobre ética e poder. É um tratado visual sobre masculinidade, tradição e silêncio — aquilo que se diz sem dizer.

 

Até hoje, jovens cineastas bebem dessa fonte, e maratonas da trilogia seguem como rituais de iniciação cinéfila. No tempo do streaming e da instantaneidade, O Poderoso Chefão exige tempo, pausa e escuta. Em 2025, sua relevância permanece como cicatriz e espelho daquilo que o poder, em qualquer esfera, pode criar — e destruir.

 

A saga de O Poderoso Chefão está disponível nas plataformas Paramount, Telecine e Mercado Play. 

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