Há encontros musicais que reconfiguram tudo. Quando Whitney Houston regravou I Will Always Love You, composta por Dolly Parton em 1974, a canção atravessou fronteiras de gênero, de estilo e de público. O que nasceu como um adeus íntimo no universo do country tornou-se, duas décadas depois, um hino global de amor e perda, embebido de soul e potência vocal.
A versão de Whitney, lançada em 1992 para o filme O Guarda-Costas (The Bodyguard), superou o sucesso do original e o reinventou para uma nova época, sem apagar a origem que a sustentava.
A história da canção começa com Dolly Parton se despedindo de seu mentor e parceiro musical Porter Wagoner. Escreveu-a como gesto de gratidão e libertação. Simples, elegante e profundamente emocional, a versão original alcançou o topo das paradas country nos anos 70. Mas foi com O Guarda-Costas que a música explodiu em escala mundial, integrando a trama do filme e fundindo-se à figura de Rachel Marron, a estrela pop vivida por Whitney Houston, protegida por um silencioso Kevin Costner.
O filme, em cartaz no catálogo da plataforma MAX, ajudou a amplificar a força simbólica da música. Em uma narrativa marcada por tensão, desejo e perigo, I Will Always Love You aparece como uma declaração sem volta, um adeus sem amargura. A versão de Whitney — iniciada a capella e evoluindo em camadas crescentes de arranjo — se tornou uma experiência sensorial e emocional, sustentada por uma performance vocal que marcou gerações. Não se tratava apenas de técnica: havia ali uma entrega absoluta, quase ritual.
O êxito foi histórico. A gravação liderou as paradas por 14 semanas consecutivas nos Estados Unidos, ganhou o Grammy e vendeu milhões de cópias ao redor do mundo. Mas talvez o aspecto mais significativo esteja no gesto de reconhecimento: Dolly Parton nunca viu sua canção ser apagada — apenas multiplicada. Ao levar I Will Always Love You para uma outra atmosfera, Whitney não negou o passado. Apenas o fez ecoar mais alto.