Há músicas que não precisam nascer grandiosas para se tornarem eternas. Basta que doam no lugar certo. “Love Hurts”, do Nazareth, entrou nas paradas americanas em 22 de novembro de 1975, alcançando o 8º lugar, mas seu impacto sempre foi muito maior do que qualquer número poderia medir. Meio século depois, a faixa continua sendo o tipo de lamento que escapa do rádio, atravessa o peito e se aloja num canto silencioso da memória afetiva de quem já amou errado, ou certo demais.
O que torna essa versão tão visceral é o modo como Dan McCafferty canta como se estivesse num limite emocional perigoso, rasgado, vulnerável. Não é um vocal “bonito”, é um sussurro verdadeiro, cru, como se cada verso fosse puxado direto das entranhas. Em contraste, a banda constrói um arranjo quase minimalista para os padrões da época, com guitarras que não tentam brilhar, mas sangrar devagar. A bateria compassada mais acompanha do que conduz e o clima parece suspenso no ar. O rock em estado de suspensão emocional.
E talvez seja justamente essa contradição, a suavidade envolta numa dor irreparável, que faz “Love Hurts” atravessar décadas sem perder força. Não é uma música sobre sofrer de amor, é sobre entender que amar sempre traz algum tipo de ferida, um custo embutido no pacote. O Nazareth transformou esse entendimento universal em algo melódico, sombrio e profundamente humano. Cinquenta anos depois, continua sendo um daqueles hinos que você não escolhe ouvir, e ele simplesmente te encontra quando precisa.