Nesta segunda-feira, 22 de dezembro, completam-se 23 anos sem Joe Strummer, e o silêncio deixado por sua ausência continua barulhento. Vocalista e letrista do The Clash, Strummer nunca tratou música como entretenimento neutro. Para ele, canção era ferramenta, postura, enfrentamento. Um rádio ligado ao mundo, e não apenas a si mesmo.
Joe cantava como quem caminha pelas ruas, atento às bordas da cidade e às histórias que não chegam aos jornais. Punk, reggae, dub, rockabilly, política internacional e crônicas do cotidiano coexistiam sem hierarquia. Não havia pureza estética, só necessidade. Sua obra ensinou que rebeldia não é pose, é atenção constante ao que está fora do enquadramento.
Passadas mais de duas décadas, Strummer segue presente, tanto pela nostalgia quanto pela utilidade. Em tempos de discursos vazios e engajamentos performáticos, suas músicas ainda perguntam o que precisa ser dito, e para quem. Ele não oferecia respostas confortáveis, mas, sim, movimento. Pensar, agir, não aceitar o mundo como ele se apresenta.

Joe Strummer morreu cedo, aos 50 anos, mas deixou um manual aberto. Um convite permanente para ouvir o ruído ao redor, desconfiar das versões oficiais e lembrar que música pode ser abrigo, alerta e faísca ao mesmo tempo. 23 anos depois, nada nele soa passado. Porque urgência, quando é real, não envelhece.