Em 23 de dezembro de 1978, Rod Stewart lançava “Da Ya Think I'm Sexy?”, um dos maiores sucessos de sua carreira e um marco da era disco. O que ninguém imaginava (ou fingia não imaginar) é que o refrão irresistível da canção carregava, quase intacta, a melodia de “Taj Mahal”, composição de Jorge Ben Jor. Quase meio século depois, o episódio segue como um dos casos mais emblemáticos de plágio musical da história do pop, não pelo conflito, mas pela forma como foi resolvido.
A semelhança era inegável. O famoso “tê-tetere-tê” que grudou nas pistas de dança internacionais repetia com precisão a linha melódica que Jorge Ben havia lançado anos antes, misturando samba, balanço africano e soul brasileiro. O contexto ajuda a explicar o “deslize”. Stewart esteve no Brasil durante o Carnaval de 1978, acompanhado de Elton John e Freddie Mercury. Naquele verão, “Taj Mahal” tocava sem parar no Rio de Janeiro, e, como o próprio Rod admitiria décadas depois, a melodia acabou se alojando em sua memória criativa.
Em sua autobiografia, lançada em 2012, Stewart abandonou qualquer versão romantizada do episódio e deu nome ao que aconteceu: plágio inconsciente. Confessou que não houve má-fé, mas também não negou o impacto direto da música de Jorge Ben em sua composição. O caso chegou à Justiça e foi resolvido de maneira rara no show business. Jorge Ben Jor foi oficialmente reconhecido como coautor da canção, ao lado de Stewart, Duane Hitchings e Carmine Appice, e os royalties passaram a ser destinados à UNICEF, por sugestão do próprio Rod.
Quarenta e sete anos depois, o episódio permanece como um retrato perfeito de como a música circula, se contamina e atravessa fronteiras. Mais do que um escândalo, o caso Rod Stewart–Jorge Ben expôs o poder silencioso da música brasileira sobre o pop internacional e mostrou que, às vezes, até os maiores hits globais nascem de um samba que ninguém conseguiu esquecer.