É véspera de Natal, mas a guitarra dos Ramones ainda soa áspera, quase impaciente. Merry Christmas (I Don't Want to Fight Tonight) não pede paz mundial nem promete redenção, só quer silêncio suficiente para atravessar a noite sem estilhaços emocionais. É punk, mas cansado. Rápido, direto, humano demais para parecer pose.

Entre luzes piscando e ressentimentos acumulados, a música vira um acordo informal: hoje não. Não vamos lutar hoje. Amanhã, talvez. Agora não. O refrão funciona como um bilhete amassado deixado sobre a mesa da cozinha, ao lado de um copo vazio e de coisas não ditas.

Não é um Natal perfeito, é um Natal possível. Com ruído, afeto torto e um desejo simples de sobreviver à própria intensidade. Três acordes bastam quando o que se pede não é amor eterno. É só um intervalo.