O som que não se cala: 40 anos da Tribo de Jah em movimento
Quatro décadas fazendo barulho onde disseram que era silêncio.
Por LockDJ
Publicado em 09/04/2025 09:54
Música
Tribo de Jah celebra 40 anos soprando a brisa de Jah no Brasil e no mundo (Foto: Meireles Jr)

Em um país que sempre dançou conforme o som da moda, manter a cabeça erguida e o coração afinado por quatro décadas é um feito para poucos. A Tribo de Jah, banda maranhense que virou lenda viva do reggae nacional, inicia neste sábado (12), em Natal (RN), a turnê que celebra 40 anos de estrada, resistência e reverência à cultura de Jah.

 

Mais do que uma banda, a Tribo é um manifesto. Surgida em São Luís, ainda nos anos 1980 — quando o reggae era mais marginal do que tropical —, a formação liderada por Fauzi Beydoun, um jornalista e radialista que trocou o microfone das notícias pelas mensagens de consciência, se tornou precursora de um som que ecoa muito além do Maranhão.

 

Sim, estamos falando da única banda brasileira a pisar no palco sagrado do Sunsplash Festival, na Jamaica, berço espiritual do gênero. Também foram os primeiros a cantar reggae no Rock in Rio, em 2001, desbravando um território onde o roots era visto com desconfiança por uma elite cultural que não ouvia o que vinha das ruas.

 

Ao longo de 40 anos, foram mais de 50 países, 19 álbuns, dois DVDs, dois documentários e uma infinidade de histórias gravadas no vinil da memória coletiva. Da lendária “Morena Raiz” à visceral “Regueiros Guerreiros”, passando pela doce melodia de “Uma Onda que Passou”, a Tribo consolidou uma trajetória feita de fé, som e resistência.

 

 

“A Tribo de Jah foi a primeira a traduzir o reggae roots para o português. O que é ‘roots’? O que é ‘regueiro’? Tudo isso entrou no vocabulário do brasileiro através da gente”, reflete Fauzi, que também assina a alma poética da banda.

 

A turnê de 40 anos reúne a formação original — Aquiles Rabelo (baixo), Netto Enes (guitarra), João Rodrigues (bateria) e o retorno do tecladista Frazão —, reafirmando os laços que resistiram ao tempo e à lógica descartável da indústria fonográfica.

 

Num país onde as leis de incentivo à cultura costumam ignorar o som periférico e a grande mídia ainda tropeça na própria bolha, Fauzi fala com a franqueza de quem nunca se curvou:

 

“Nunca conseguimos apoio federal. Sempre foi uma batalha. Mas nossa mensagem é edificante, construtiva. Isso manteve a banda viva.”

 

A Tribo de Jah é símbolo de um tempo em que música não era produto, era propósito. E mesmo com mais de 100 milhões de visualizações no YouTube hoje, a essência segue intacta. Cada show da turnê é também um reencontro com essa verdade: reggae é resistência, é cura, é comunidade.

 

No palco, eles são mais que músicos. São cronistas da alma, mestres de cerimônia de uma espiritualidade laica que pulsa em cada grave. A estrada, agora, segue por cidades como São Sebastião (SP), Ibitipoca (MG), Caruaru (PE), Paulino Neves (MA) e outras paradas com entrada gratuita, porque o acesso ao som também é um ato político.

 

A Tribo vive. E enquanto ela cantar, Jah não será silenciado.


Datas confirmadas da turnê “Tribo de Jah – 40 Anos”

 

12/04 – Natal (RN)
18/04 – São Sebastião (SP)
19/04 – Ibitipoca (MG)
27/04 – Sesc Itaquera (SP) – gratuito
24/05 – Sesc Pompeia (SP) – gratuito
31/05 – Sesc Guarulhos (SP) – gratuito
01/06 – Sesc Guarulhos (SP) – gratuito
06/06 – Caruaru (PE) – gratuito
12/07 – Paulino Neves (MA) – gratuito

Comentários
Comentário enviado com sucesso!