Stevie Wonder completa 75 anos nesta terça-feira, 13 de maio, com uma trajetória que atravessa não apenas a história da música, mas também movimentos sociais, tecnológicos e estéticos do último meio século.
Nascido Stevland Hardaway Judkins, em Michigan, nos Estados Unidos, Stevie foi apresentado ao mundo como uma criança prodígio da Motown, mas sua obra se expandiu para além do rótulo pop-soul com que inicialmente foi moldado.
Sua discografia, especialmente durante os anos 1970, formou uma espécie de trilha paralela à história norte-americana, tocando em temas como desigualdade racial, espiritualidade, política, identidade e afeto. Álbuns como Talking Book (1972), Innervisions (1973) e Songs in the Key of Life (1976) são estudados não apenas como registros musicais, mas como documentos vivos de um tempo em ebulição. Neles, Wonder explora sintetizadores, estruturas harmônicas experimentais e líricas que vão do existencial ao comunitário, sempre com uma busca por linguagem própria.
Artista cego desde a infância, Wonder nunca reduziu sua música à sua condição física, mas tampouco fugiu dela. Incorporou-a como elemento de percepção sonora e de gesto criativo. A ausência da visão, nesse caso, não se impôs como limite, mas como outra forma de escuta — mais sensível ao ritmo do mundo do que ao seu reflexo.
Ao longo da carreira, acumulou prêmios, reconhecimentos e parcerias que percorrem o R&B, o jazz, o pop e até a música eletrônica. Suas canções, como “Superstition”, “Living for the City” e “Higher Ground”, transitam com a mesma força entre pistas de dança, templos religiosos, rádios de bairro e palanques ativistas.
Stevie também foi uma voz ativa na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e desempenhou papel importante na campanha para a criação do feriado em homenagem a Martin Luther King Jr., que se tornou lei em 1983. Sua música, nesse sentido, não foi apenas entretenimento — mas extensão de um discurso ético e político.
Aos 75 anos, Stevie Wonder permanece como símbolo de uma arte que se recusa a ficar imóvel. Sua obra segue reverberando não por nostalgia, mas por sua permanência — porque ainda diz o que muitos evitam ouvir. Em tempos de algoritmos e ruídos fáceis, sua música lembra que ouvir é, antes de tudo, um ato de atenção.
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