Lançado em 1985, Nós Vamos Invadir Sua Praia segue vivo como uma cápsula sonora do Brasil urbano e debochado que surgia em meio a mudanças políticas e estéticas. O primeiro álbum do Ultraje A Rigor é, ao mesmo tempo, um recorte do underground paulista e um retrato de quem nunca quis ser engolido pelo sistema.

O disco abre com a faixa-título, um hino de escracho que desafia o bom-mocismo e abraça o improviso. Logo nos primeiros acordes, a proposta é clara: ocupar, zoar, revirar o tédio do cotidiano. As letras, que beiram a crônica do absurdo, se misturam com guitarras nervosas e um humor que não pede desculpas.

Faixas como Inútil e Ciúme ainda ressoam como gritos de quem está preso no elevador social do país — são canções que escancararam as contradições brasileiras muito antes de serem recicladas pelo mercado. Marylou e Mim Quer Tocar completam o disco como pequenas crônicas de quem não está nem aí para o moralismo reinante.

Quarenta anos depois, o álbum soa como um convite a revisitarmos o que sempre foi nosso: a capacidade de rir da própria desgraça, de cantar a falência múltipla dos discursos prontos e de lembrar que a melhor praia é aquela que a gente cria — mesmo que seja com um violão, um grito e a desconfiança de que nada nunca vai ser só diversão.