A Califórnia lisérgica de "By the Way" 23 anos depois
Aquele 9 de julho ainda ecoa como verão melancólico na alma da MTV dos anos 2000.
Por LockDJ
Publicado em 09/07/2025 06:00
Música
By the Way é menos sobre redenção e mais sobre contemplação (Foto: Reprodução)

Lançado há exatos 23 anos, em 9 de julho de 2002, By the Way é um daqueles álbuns que não envelhecem: apenas amadurecem como vinho californiano servido ao pôr do sol em Venice Beach. É o disco em que o Red Hot Chili Peppers deixa de vez o funk raivoso da era Blood Sugar Sex Magik para mergulhar em paisagens sonoras mais líricas, atmosféricas e confessionais — como se o espírito de Elliott Smith soprasse sobre os ombros tatuados de Anthony Kiedis.

 

Depois da montanha-russa emocional de Californication (1999), By the Way é menos sobre redenção e mais sobre contemplação. John Frusciante toma as rédeas criativas e preenche o álbum com camadas de guitarras harmônicas, falsetes etéreos e coros beatlemaníacos — sua fase mais barroca, quase um diário sonoro de solitude criativa e beleza imperfeita.

 

 

A faixa-título, com seu riff que começa em tom de fuga urbana e deságua num refrão quase eufórico, resume bem a dualidade do disco: um convite à estrada, mas também à introspecção.

 

 

Em “Universally Speaking”, o Kiedis poeta se revela, entre linhas sobre conexões cósmicas e fracassos íntimos. “Don’t Forget Me” soa como uma prece murmurada em motel de beira de estrada. E “Venice Queen” é quase uma elegia progressiva, construída em dois atos — uma das composições mais delicadas da banda, dedicada à terapeuta que ajudou o vocalista a sair do vício.

 

 

“The Zephyr Song” é o delírio suave e psicodélico de By the Way. Com sua melodia flutuante e versos que evocam voo, vento e comunhão cósmica, a faixa funciona como um mantra urbano para almas errantes.

 

Frusciante cria um cenário sonoro etéreo, e a guitarra soa como brisa elétrica, enquanto Kiedis canta sobre conexão e transcendência, como se estivesse em estado meditativo no topo de um prédio em Los Angeles. É o Red Hot Chili Peppers mais lírico e onírico, deslizando entre o céu e a consciência.

 

 

Musicalmente, By the Way é também um produto de seu tempo. Lançado entre a virada do milênio e o colapso do CD, o disco existe num limbo pré-streaming, onde a MTV ainda ditava estéticas e os videoclipes eram metáforas visuais de uma geração entre a apatia e a transcendência. Foi o começo do fim de uma era em que bandas de rock alternativo ainda podiam liderar paradas com baladas experimentais e refrões sussurrados.

 

O álbum foi trilha sonora de madrugadas no Discman, de amores adolescentes escritos em papel almaço e do último respiro sincero do mainstream alternativo antes da pasteurização do pop digital. Ainda hoje, By the Way é um disco que paira — feito brisa salgada — entre a psicodelia californiana e as angústias de quem procura um lar dentro do próprio corpo.

 

Não é um álbum para tocar em festas. É para ouvir com fones, olhando pela janela, enquanto o mundo gira devagar demais.

 

⭐⭐ 10/10

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