Nesta quinta-feira, 10 de julho, é celebrado o nascimento de Nikola Tesla (Smiljan - Croácia, 10 de julho de 1856 — Nova Iorque, 7 de janeiro de 1943), figura central na construção do mundo eletrificado que habitamos.
Nascido no Império Austríaco, atual Croácia, Tesla foi mais do que um inventor: foi um imaginador de futuros possíveis, um corpo deslocado entre a ciência, a cultura e a incompreensão do seu tempo. Um nome que se tornou sinônimo de inovação, mas sua trajetória também é marcada por apagamentos, disputas simbólicas e exílios subjetivos.
Tesla transformou a eletricidade em linguagem. Enquanto Thomas Edison defendia a corrente contínua, Tesla apostava na corrente alternada — um modelo mais eficiente para a distribuição em larga escala. A chamada “Guerra das Correntes” foi menos sobre física e mais sobre sistemas, política e poder. Tesla perdeu contratos, viu patentes serem absorvidas por corporações e morreu, em 1943, em um quarto de hotel em Nova York, quase esquecido pelo público e ignorado por uma indústria que se beneficiou de suas ideias.
Vida vira arte
No cinema, a figura de Tesla reaparece periodicamente, oscilando entre a biografia reverente e a aura mística. Um dos retratos mais experimentais de sua vida é o filme Tesla – O Homem Elétrico (2020), dirigido por Michael Almereyda e protagonizado por Ethan Hawke. O longa não se propõe a ser uma narrativa tradicional ou cronológica, mas sim uma releitura cultural do mito Tesla, entre colagens visuais, quebras de quarta parede e anacronismos poéticos.

Ethan Hawke viveu Tesla no cinema (Foto: Divulgação)
Ethan Hawke, em cena, não interpreta Tesla como um cientista empírico, mas como um artista filosófico, solitário, por vezes ressentido, por vezes epifânico. O filme prefere o distanciamento estético à reconstituição fiel, algo que dialoga com o próprio legado do inventor: um sujeito que nunca se encaixou nos formatos e moldes pré-estabelecidos.
Em uma das sequências mais comentadas, Tesla canta uma canção de Tears for Fears em um karaokê deserto — gesto que desmonta o realismo e transforma o personagem em figura atemporal. O filme está disponível na Prime Vídeo.
Essa abordagem não busca redimir Tesla, mas devolvê-lo à instabilidade que sempre o definiu. Ele foi tão cientista quanto performer, tão engenheiro quanto místico, tão racional quanto visionário. Em vida, foi ridicularizado por ideias como a transmissão sem fio de energia, o controle remoto e a possibilidade de comunicação interplanetária. Décadas depois, essas ideias migraram da ficção para os laboratórios.
Tesla não era apenas inventor de máquinas, mas articulador de imaginários. Sua figura foi apropriada por movimentos alternativos, por teóricos da conspiração, por startups e pela cultura pop — do nome da empresa automobilística de Elon Musk ao personagem vivido por David Bowie no filme O Grande Truque, de Christopher Nolan (Apple TV).
Celebrar o aniversário de Tesla é também revisitar o que há de incômodo em sua presença: a insistência no impossível, a recusa em ser domesticado pela lógica do mercado, a percepção de que a ciência também é palco, metáfora e delírio.
Tesla não cabe apenas no recorte da engenharia. Ele pertence também à história da inquietação.