Sob os olhos do Grande Irmão: 75 anos sem Orwell e ainda dentro de 1984
Suas ideias continuam latejando entre os corredores da história, debates sobre vigilância, poder, linguagem, guerra e verdade.
Por LockDJ
Publicado em 11/07/2025 06:00
Cultura
Em 1984, Orwell desenhou um mundo onde o passado é reescrito continuamente (Foto: Reprodução IA)

Em 2025, completou-se 75 anos da morte de Eric Arthur Blair — mais conhecido como George Orwell — e talvez nunca tenhamos vivido tão dentro de suas páginas.

 

Falecido em 1950, aos 46 anos, Orwell deixou uma obra breve, mas devastadora. Suas ideias continuam latejando entre os corredores da história, nos debates sobre vigilância, poder, linguagem, guerra e verdade. A memória de Orwell não é apenas literária: ela é política, filosófica, visionária — e, sobretudo, atual.

 

Filho do colonialismo britânico, nascido em Motihari, na Índia Britânica, Orwell viveu como agente do Império antes de renunciar à máquina que servia. Esse gesto ético inauguraria a espinha dorsal de sua escrita: a denúncia contra os sistemas opressores, viessem de onde viessem. Militante antifascista, combatente na Guerra Civil Espanhola, ensaísta militante contra o stalinismo, Orwell não foi homem de causas fáceis — mas de fidelidade feroz à verdade e à justiça.

 

Entre suas obras mais conhecidas, destacam-se A Revolução dos Bichos (Animal Farm, 1945), fábula agrária sobre a traição dos ideais revolucionários pela sede de poder, e, sobretudo, 1984 (publicado em 1949), romance distópico que se tornou uma espécie de manual profético do século XXI.

 

Em 1984, Orwell constrói o Grande Irmão, a novilíngua, o duplipensar, o Ministério da Verdade — conceitos que migraram da ficção para o léxico político real, usados hoje para nomear governos autoritários, manipulações midiáticas e a erosão dos fatos.

 

Orwell foi um cartógrafo da mentira. Em 1984, ele desenha um mundo onde o passado é reescrito continuamente, onde a linguagem é reduzida para impedir o pensamento, onde o amor e a rebeldia são punidos com a aniquilação do eu. “Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado” — a máxima de seu regime totalitário tornou-se inquietantemente familiar em tempos de revisionismo histórico, fake news e vigilância algorítmica.

 

Não por acaso, o impacto cultural de Orwell se espalha para além dos livros. 1984 foi adaptado várias vezes para o cinema e a televisão, com destaque para o filme homônimo de 1984, dirigido por Michael Radford e estrelado por John Hurt e Richard Burton. Disponível na plataforma MGM+

 

A trilha sonora, composta pela banda Eurythmics, reforça o tom distópico com sua sonoridade sintetizada e gélida. Já A Revolução dos Bichos ganhou animações (1954 e 1999), além de versões teatrais e quadrinizadas — sempre reinterpretadas em tempos de crise.

 

Orwell não profetizou com bola de cristal: ele entendeu os mecanismos do poder com tal clareza que seu pensamento parece crescer a cada década. De certo modo, ele não morreu. É como se estivesse na sala, analisando algoritmos, assistindo a câmeras de segurança, traduzindo discursos políticos, debatendo a fronteira entre privacidade e vigilância, verdade e propaganda.

 

Setenta e cinco anos depois de sua morte, Orwell permanece como um farol — ou como um espelho desconfortável. Sua literatura nos obriga a perguntar: quem está escrevendo a história agora? E com que palavras?

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