Nesta terça-feira, 15 de julho, a atriz franco-suíça Irène Jacob completa 59 anos — e poucos intérpretes souberam habitar o silêncio com tanta intensidade. Sua trajetória está entrelaçada com o cinema de autor europeu, especialmente pelas parcerias com o cineasta polonês Krzysztof Kieslowski, em que o olhar, o gesto contido e o espaço entre as palavras revelaram uma artista de aura clássica e densidade melancólica.
Foi com “A Dupla Vida de Véronique” (1991) que o mundo conheceu sua sensibilidade rarefeita. No filme, Jacob interpreta duas mulheres — Véronique, na França, e Weronika, na Polônia — unidas por uma misteriosa conexão espiritual.
Mais do que uma performance, ela oferece uma presença, como se escutasse o invisível. A câmera de Kieslowski não a persegue: repousa nela. E isso é raro. O filme está disponível no catálogo da plataforma Reserva Imovision (via Prime Vídeo)
Três anos depois, Jacob voltaria a trabalhar com o diretor em “A Liberdade é Azul”, inicialmente cogitada, mas foi em “A Fraternidade é Vermelha” (Trois couleurs: Rouge, 1994) que a parceria se eternizou.
No último capítulo da trilogia das cores, ela vive Valentine, uma modelo que desenvolve uma relação poética e moral com um juiz aposentado. O filme encerra a obra final de Kieslowski com a maturidade calma que só um cinema que pensa com o coração e os olhos poderia oferecer — e Jacob é o espelho dessa filosofia. O filme está disponível para assinantes do canal Telecine.
Fora da filmografia kieslowskiana, Irène também atuou em obras como “Incógnito” (1997), “U.S. Marshals” (1998) e o delicado “Além das Nuvens” (1995), ao lado do ator John Malkovich, de Michelangelo Antonioni e Wim Wenders, no qual seu tipo de atuação — íntima, cerebral e carregada de sugestão — encontrou afinidade estética.
Filha de um físico e uma psicóloga, Irène nunca foi afeita a histrionismos. Seu teatro interior é povoado por silêncios, hesitações e olhares suspensos. É uma atriz que age pouco — e sente muito. Sua atuação é como uma carta não enviada: está lá, inteira, mas aberta à interpretação do outro.
Hoje, aos 59, Irène Jacob permanece como um ícone de uma era cinematográfica em que o tempo do espectador era respeitado, a ambiguidade era uma forma de beleza, e a melancolia não precisava de trilha sonora para doer.