Alguns dias não são apenas datas — são vitrines do tempo. E o dia 8 de abril é um desses momentos em que o rock parece ter conspirado com o universo para deixar suas marcas em vinil, celuloide e memória. Percorrer os acontecimentos deste dia ao longo das décadas é como folhear um almanaque afetivo das guitarras distorcidas, da rebeldia como estética e da contracultura como manifesto.
1977: Punk, suor e trincheiras
Era uma sexta-feira qualquer quando o The Clash lançou seu primeiro álbum pela CBS na Inglaterra. Autointitulado, direto, sujo como Londres depois da chuva, o disco foi um grito que ainda ecoa nas garagens e playlists.
Ao mesmo tempo, o Judas Priest apresentava Sin After Sin, um passo decisivo na evolução do heavy metal — uma liturgia sonora que influenciaria de Bruce Dickinson a Metallica.
Nesse mesmo 8 de abril, saía na Alemanha o registro histórico The Beatles Live! At The Star Club in Hamburg, uma cápsula do tempo com os Fab Four ainda selvagens, pré-fama, transpirando energia crua em um porão alemão antes de conquistarem o mundo.
1975 e 1974: Aerosmith e McCartney em rota de colisão
O Aerosmith soltava Toys in the Attic — disco que não só consolidou o nome da banda, mas também marcou a história com clássicos como “Sweet Emotion” e “Walk This Way”. Um hard rock com pinta de groove, que aproximava guitarras de becos nova-iorquinos e festas em motéis à beira de estrada.
No ano anterior, Paul McCartney, recém-liberto das amarras da Beatlemania, lançava nos EUA o compacto com “Band on the Run”. A música, épica em estrutura e melodia, foi um recado claro: Macca sabia muito bem como manter seu nome no topo sem precisar olhar para trás.
Woodstock, Neil Young e o cinema do rock
O cinema também se dobrou ao rock em 8 de abril. Em 1970, estreava na Inglaterra o documentário Woodstock, retrato da utopia de paz, amor e guitarras elétricas que definiu uma geração. Três anos depois, Neil Young entregava seu Journey Through the Past, experimento visual autobiográfico, entre a psicodelia e o confessionário folk — um filme para ser sentido, não explicado.
1990s: O revival e o epitáfio
Na era das coletâneas, em 1997, o Kiss lançava Greatest Kiss, celebrando décadas de maquiagem e pirotecnia com um apanhado de hinos imortais. E em 1994, o Pink Floyd entrava definitivamente para o Olimpo da música: Dark Side of the Moon se tornava o quarto álbum mais vendido da história. Um feito para um disco que mais parece uma jornada filosófica sonora.
Mas o 8 de abril também guarda seu silêncio. Em 2010, nos deixou Malcolm McLaren, o provocador por trás do Sex Pistols. Mais do que um manager, um arquiteto do caos, que ajudou a vestir a anarquia com tachas e escândalos.
Mais do que uma data, um estado de espírito
De The Clash a Ringo Starr, de Neil Young a Judas Priest, o 8 de abril não é apenas um dia no calendário. É uma linha de tempo carregada de distorções, melodias, revoluções estilísticas e, principalmente, histórias.
Um lembrete de que o rock, em suas muitas faces, sempre soube transformar qualquer data em manifesto.
Relembre "Money", faixa clássica do álbum Dark Side of the Moon, do Pink Floyd