Não é apenas sobre um astronauta solitário em Marte. "Rocket Man", lançada em 1972 no álbum Honky Château, é sobre distâncias. Não as interestelares, mas as intimidades em colapso, os silêncios familiares, os espaços entre o que se é e o que se mostra. Escrita por Bernie Taupin e eternizada na voz e nos teclados de Elton John, a canção completa 53 anos como uma das baladas mais melancólicas e existencialistas da música pop — e segue orbitando o inconsciente coletivo como um satélite emocional.
Inspirada no conto The Rocket Man, de Ray Bradbury, e com ecos cósmicos que dialogam com Space Oddity de David Bowie, Rocket Man é a narrativa de um homem que voa alto, mas que se despedaça por dentro. “I’m not the man they think I am at home”, canta Elton, flutuando entre versos como se estivesse suspenso entre dois mundos — o da fama e o do afeto; o da performance e o da solidão.
Musicalmente, a faixa é um híbrido raro entre balada e ficção científica, um space pop suave, ancorado pelo piano de Elton e suavemente distorcido por sintetizadores e slide guitars. É uma canção que parece ter sido composta olhando pela janela de uma nave ou de um quarto vazio — e tanto faz, porque no fundo, os dois lugares falam da mesma ausência.
Mas é o filme de 2019, Rocketman, que dá corpo e drama à metáfora. O longa, dirigido por Dexter Fletcher, não é um documentário convencional. É uma ópera glam psicodélica que recodifica a trajetória de Elton John pela lente da música. E Rocket Man, a canção, aparece no filme não como trilha, mas como catártica confissão — o ponto em que a persona Elton despenca e o menino Reginald Dwight emerge.
A cena em que o personagem canta a música levitando no palco resume toda a carga simbólica da obra: o sucesso pode te lançar ao espaço, mas raramente te dá uma rota de volta.
E talvez por isso Rocket Man siga tão relevante. Porque somos todos, em algum grau, astronautas em missões não planejadas. Trabalhamos demais, amamos de menos, flutuamos entre papéis. A música não envelhece porque ela fala daquilo que não passa: a ânsia de pertencimento em um mundo onde, às vezes, só resta o vazio.
Hoje, meio século depois de seu lançamento, a música continua vendendo, sendo streamada, adaptada, regravada. E não importa quantas vezes a ouvimos — ainda é longa, longa a viagem.
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