Antes de ser um ícone involuntário da internet, Rick Astley era só mais um garoto de voz grave demais para a própria idade, saído do interior da Inglaterra direto para o altar do pop sintetizado dos anos 80. Seu maior hit, Never Gonna Give You Up, lançado em 1987, estourou em tudo quanto é rádio, boate e baile de garagem — e mesmo quem jurava ouvir só The Smiths ou Joy Division acabava rendido à batida dançante e ao timbre impossível daquele ruivo de blazer pastel.
Mas o que ninguém previu foi o renascimento. Em pleno século XXI, quando a canção já era item de museu afetivo, Never Gonna Give You Up virou o centro de um dos maiores fenômenos da cultura digital: o Rickroll. A fórmula era simples, quase pueril: enganar alguém com um link, geralmente prometendo algo bombástico, que redirecionava para o clipe do Rick, dançando desengonçado num fundo de tijolinhos. O trote virou arte. E o meme, culto.
No dia 28 de julho de 2021, a música ultrapassou a marca de 1 bilhão de visualizações no YouTube. Um número que nenhuma previsão dos anos 80 teria ousado arriscar. Não é apenas sobre nostalgia, mas sobre permanência. Enquanto muitos hits da mesma década ficaram enterrados sob camadas de neon e laca, Never Gonna Give You Up virou loop infinito, referência transversal, trilha de TikToks, tweets e casamentos retrô.
Rick Astley, por sua vez, surfou a onda com elegância. Não renegou o meme, não tentou parecer mais sério do que a própria figura. Ele soube rir de si mesmo, subir ao palco com graça e, vez ou outra, mandar versões acústicas ou covers de Foo Fighters — o que prova que o tempo, no pop, não é uma linha, mas um vinil girando em looping imprevisível.
Hoje, ouvir Rick Astley é mais do que reviver os bailinhos com globo de espelho e refrigerante quente. É aceitar que a cultura é remix, que o pop se dobra sobre si e que alguns refrões — por mais inocentes que pareçam — acabam atravessando gerações com a força de um GIF eterno.
Nunca te decepcionarão. Nunca te abandonarão. E provavelmente, nunca deixarão de tocar.