Nesta segunda-feira (23 de junho), completa 45 anos o vigésimo álbum de estúdio de Bob Dylan, Saved, lançado em 1980. Integrante da trilogia dedicada à sua fase de conversão ao cristianismo – iniciada com Slow Train Coming (1979) e encerrada com Shot of Love (1981) – o disco reforça a mensagem evangelizadora de Dylan com forte influência gospel.

Após relutar por anos em firmar uma identidade religiosa na música, Dylan fez dessa fase uma declaração pública de fé. Saved apresenta músicas como a faixa-título e “Solid Rock”, carregadas de convicção espiritual, mas acompanhadas de arranjos e performances corais cheios de energia.

O álbum teve desempenho moderado: chegou à 24ª posição nos Estados Unidos e alcançou o terceiro lugar no Reino Unido. As críticas foram mistas. Alguns elogiaram a banda e o comprometimento de Dylan com seu novo enfoque, como Kurt Loder na Rolling Stone, que destacou “In the Garden”, embora também tenha apontado que as letras religiosas superaram os limites do gênero gospel tradicional. Robert Christgau foi mais cético, classificando o disco como “experimento falho”.

Legado simbólico

Colocado na lista de “80 Greatest Albums of 1980” pela Rolling Stone em 2020, Saved permanece como um marco da fase “born-again” de Dylan. Para muitos fãs, o álbum revela uma sinceridade vocal e uma coesão emocional que o distinguiam, mesmo em meio à crítica.

Por que Saved importa ainda hoje?

• Momento de afirmação espiritual: Dylan renuncia à ironia para expressar fé com convicção, ainda que isso gere divisão.

• Energia e performance: coros gospel vibrantes e a banda de apoio conferem ao disco urgência e impacto emocional.

• Ícone de época: mesmo sendo visto como o “ponto baixo” da fase, Saved serve como testemunho de um artista em transição, disposto a arriscar e a transformar sua música e identidade.

Saved é ao mesmo tempo um testemunho de fé, um álbum de energia gospel contundente e um marco de uma fase controversa na carreira de Dylan. Completar 45 anos é revisitar um período em que o cantor, já ícone da contracultura, abraçava convicções pessoais com força e sem meias-palavras — para o bem e para o mal.