O Brasil bizarro, sensual e pop de Ivan Cardoso ao som de Léo Jaime
Cantor eterniza sua aura kitsch e debochada com a música-tema homônima neste relicário do Brasil pop underground.
Por LockDJ
Publicado em 05/07/2025 11:56
Entretenimento
Léo Jaime canta a música e participa do filme As Sete Vampiras (Foto: Reprodução)

As Sete Vampiras (1986), dirigido por Ivan Cardoso, é uma obra que talvez só pudesse ter surgido no Brasil dos anos 1980 — uma década marcada pela explosão do videoclipe, pela redemocratização e pela redescoberta do prazer em rir da própria tragédia. E quem melhor para traduzir esse espírito do que Léo Jaime? Ele não apenas participa do filme como ator, mas também eterniza sua aura kitsch e debochada com a música-tema homônima, uma das faixas mais lúdicas da trilha sonora do pop nacional oitentista.

Longe de qualquer lógica tradicional do terror, As Sete Vampiras é uma mistura de chanchada, quadrinho pulp, ficção científica, música pop, sensualidade televisiva e carnaval de horror, tudo embalado com a estética “trash-chique” de Cardoso, mestre do terrir — essa fusão orgulhosamente tropical de terror e rir.


No centro da história está o detetive Raimundo Marlou (Nuno Leal Maia), um sujeito caricato encarregado de desvendar os assassinatos ligados a um número performático de sete mulheres vampiras em um cabaré carioca.


A trilha sonora é um capítulo à parte. Com a canção “As Sete Vampiras”, Léo Jaime capta o espírito do filme com perfeição: a letra brinca com o imaginário das femme fatales, dos filmes de horror e da sexualidade pop, enquanto os sintetizadores e a levada new wave transformam o medo em diversão. É como se Blitz encontrasse Bela Lugosi na pista de dança da Frenética. O clipe da música, inclusive, foi exibido diversas vezes na televisão da época, confundindo-se com o próprio filme, tamanha a simbiose entre imagem e som.


Além de cantar, Léo Jaime aparece como ator, em mais um exemplo do quanto a produção incorporava a cultura pop do período: artistas da música, da televisão, do teatro alternativo e da pornochanchada dividem cena com monstros, cientistas loucos e criaturas sensuais, tudo num Rio de Janeiro moldado pela lente do exagero. O roteiro, assinado por Rubens Francisco Lucchetti, dialoga com as revistas de horror dos anos 60 e 70, dando à trama um sabor de nostalgia pulp.

As Sete Vampiras é um relicário do Brasil pop underground. Um exercício de liberdade artística em que o mau gosto é, na verdade, uma forma de resistência — contra o elitismo cultural, contra a caretice do bom-mocismo e a favor da alegria nonsense que só o cinema marginal brasileiro consegue evocar com tanta autenticidade.

Hoje, ao assistir ao filme ou ouvir a música de Léo Jaime, o espectador é transportado para um tempo em que o absurdo fazia sentido, e em que o horror podia, sim, rimar com alegria.


Atualmente, o filme não está disponível nas plataformas de streaming, mas já teve exibições em canais de cinema alternativo e festivais. Eventualmente pode ser encontrado em plataformas com acervo de clássicos nacionais (como o Itaú Cultural Play, SPCine Play, ou Canal Brasil Play). Cópias físicas em DVD também existem, geralmente como itens de colecionador.

 

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