Behaviour: 35 anos de um lamento dançante entre o hedonismo e a memória
Pet Shop Boys escreveu um diário eletrônico de um tempo suspenso entre o fim dos anos 1980 e a ressaca melancólica do início dos 90.
Por LockDJ
Publicado em 12/07/2025 11:04
Música
Behaviour é o quarto álbum de estúdio da banda Pet Shop Boys (Foto: Divulgação)

Há álbuns que sobrevivem ao tempo como cápsulas de uma era, mas Behaviour (1990), do Pet Shop Boys, é mais que isso — é um diário eletrônico de um tempo suspenso entre o fim dos anos 1980 e a ressaca melancólica do início dos 90. Em 2025, o disco completa 35 anos e continua ecoando nas pistas mais nostálgicas, nas noites de fones introspectivos e nas novelas das oito que ajudaram a tropicalizar sua elegância soturna.

 

Produzido com precisão pelo alemão Harold Faltermeyer (sim, aquele dos temas oitentistas sintetizados com arquitetura teutônica), o disco marca um ponto de inflexão no som da dupla Neil Tennant e Chris Lowe. Menos eufórico que os lançamentos anteriores, Behaviour é contemplativo, com uma pegada mais orgânica e melódica, como se a pista de dança estivesse coberta por névoa emocional.

 

É nesse cenário que surge Being Boring, segundo single do álbum e verdadeiro manifesto do desencanto pós-glamour. A faixa é uma ode delicada ao tempo e à amizade, escrita em resposta à morte de um amigo próximo de Neil Tennant, vítima da epidemia de HIV — contexto que assombrava toda a comunidade clubber e queer da virada dos anos 80 para os 90. A letra (“We were never being boring / We had too much time to find for ourselves”) funciona como epitáfio dançante, confessional e poético.

 

No Brasil, o synth melancólico de Being Boring foi adotado pela teledramaturgia em Meu Bem, Meu Mal (1990), novela de Cassiano Gabus Mendes, em um dos casais mais inusitados da TV: Porfírio (Guilherme Karan) e "dívina" Magda (Vera Zimmermann).

 

A trilha internacional da novela contribuiu para apresentar o Pet Shop Boys ao grande público brasileiro, ainda que sua lírica, quase sempre irônica e densa, fosse mais apreciada nas matinês indie e nos porões do pós-punk nacional.

 

Passadas mais de três décadas, Being Boring ainda é um hino às vidas que poderiam ter sido, aos corpos que dançaram sem amanhã e às lembranças embaladas por sintetizadores que não envelhecem.

 

Hoje, em meio ao revival oitentista que povoa as playlists e os algoritmos, a faixa segue firme como trilha para quem nunca quis ser entediante — e, mesmo cansado do mundo, ainda encontra poesia no som que vem da pista.

 

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