Feedbacks distorcidos de uma era elétrica: um tributo ao Dia Mundial do Rock
No Brasil, 13 de julho é mais que uma data, é um manifesto sonoro.
Por LockDJ
Publicado em 13/07/2025 01:01 • Atualizado 13/07/2025 01:03
Música
Rock é celebração, é memória, é catarse coletiva (Foto: Arte Rádio VB)

"Elvis sacudiu a pélvis e o mundo nunca mais foi o mesmo." Assim começou a trilha ruidosa que rasgaria décadas, modas, fronteiras e paradigmas. No Brasil, 13 de julho é mais que uma data: é um manifesto sonoro. O Dia Mundial do Rock, ainda que não oficializado internacionalmente, carrega o símbolo da rebeldia criativa — e homenageia o lendário Live Aid, festival beneficente de 1985 que uniu artistas como Queen, David Bowie e U2 em um grito uníssono contra a fome na Etiópia. Um grito com amplificador no talo.

Mas a gênese é mais antiga. Nos anos 1950, o rock nasceu na encruzilhada entre o blues dos campos de algodão e o country das pradarias americanas. Chuck Berry dedilhou os riffs iniciais e Little Richard colocou fogo no piano. Elvis virou mito, enquanto mulheres como Sister Rosetta Tharpe — a mãe esquecida do rock — já moldavam o som muito antes dos holofotes.

 

 

Um marco fundacional. Riff icônico, narrativa juvenil e energia bruta. A gênese do rock como conhecemos — direto da raiz afro-americana que moldou tudo.

 

A cada década, o rock mudava de cara sem perder a essência. Nos anos 1970, enquanto o glam rock de Bowie fazia da androginia um altar e os riffs de Led Zeppelin incendiavam os palcos, o punk se levantava como um antídoto à pompa progressiva. Johnny Rotten cuspia na cara do establishment e Patti Smith sussurrava poesia em acordes sujos: “Saíamos para caminhar à noite. Às vezes conseguíamos enxergar Vênus acima de nós. Era a estrela dos pastores e a estrela do amor.

 

The Clash incendeia Londres. O punk se politiza, o mundo desaba e o apocalipse vira refrão. É a ponte entre o caos e a consciência, entre o punk e a world music.

 

 

Os anos 1980 trouxeram a nova estética. A new wave sintetizou distorções com batidas eletrônicas. De um lado, o existencialismo melódico do The Cure, de outro, a dança política do Talking Heads. O post-punk revelou o abismo dançante de Joy Division — onde a dor virou culto. E o britpop nos anos 1990 seria o reflexo pop disso tudo, com Blur e Oasis reencenando as guerras tribais dos Beatles e Stones sob névoas de arrogância e hino de estádio.

 

Joy Division transforma a angústia em elegância sonora. Pós-punk de alma sombria e beleza desoladora, como um hino do abismo da modernidade.

 

 

No subterrâneo, surgia o grunge, grito abafado de Seattle, com Nirvana liderando um funeral para o glamour. “It’s better to burn out than to fade away”, escreveu Kurt Cobain em sua carta de adeus, citando Neil Young — e sintetizando o espírito de uma geração que encontrou no som distorcido a tradução da angústia.

 

O rock alternativo de Seattle implode o mainstream. Uma explosão suja, sincera e existencial. Uma geração encontrou voz no ruído.

 

 

O rock alternativo logo ganhou múltiplas vozes. Do Radiohead em colapso existencial ao Queens of the Stone Age cavando deserto, passando pelo indie rock dos anos 2000 — Strokes, Yeah Yeah Yeahs, Interpol, Arcade Fire — o rock se pulverizou, deixou de ser monopólio de guitarras, mas não perdeu a urgência.

 

O indie rock como catarse coletiva e espiritual. A marcha orquestral de uma geração que olha para trás com reverência, mas segue em frente com fúria sofisticada.

 

 

Como diria Lou Reed: “One chord is fine. Two chords are pushing it. Three chords and you’re into jazz.” (Um acorde está bom. Dois acordes já estão forçando a barra. Três acordes e você está curtindo jazz). É essa simplicidade que, paradoxalmente, faz do rock algo profundo. Um movimento que é barulho, sim — mas também silêncio, poesia, transgressão e refúgio.

 

Na Rádio VB, todo dia é dia de rock, da psicodelia de Syd Barrett ao rock de garagem de um trio obscuro do interior. Mas neste 13 de julho, a gente toca ainda mais alto. Porque o rock é celebração, é memória, é catarse coletiva. E porque, como disse Lemmy, do Motörhead: “Se você pensa que está velho demais para o rock, então você está.”

 

Longa vida ao rock.

 

E que o volume nunca baixe.


 

️ Rádio VB – Onde o rock vive todos os dias.

Comentários
Comentário enviado com sucesso!