Em um mundo de bandas descartáveis e hits de verão, poucas histórias são tão improváveis quanto a de Chumbawamba — o coletivo anarquista que, do nada, virou fenômeno global com um refrão que ecoa até hoje: "I get knocked down, but I get up again!".
Formada nos anos 80 no coração da Inglaterra punk, Chumbawamba era mais do que uma banda — era uma trincheira musical contra o sistema. Eles se levantaram em piquetes, fizeram shows para mineiros em greve, e lançaram o primeiro álbum, Pictures of Starving Children Sell Records, como uma crítica direta ao Live Aid e ao espetáculo da caridade de celebridade.
E então, veio 1997.
Oito discos depois, a banda resolve assinar com uma grande gravadora (EMI) e lançar Tubthumper, um disco com nome estranho e ambições ainda mais esquisitas. Mas foi aí que aconteceu a mágica — ou a contradição, dependendo do ponto de vista. O primeiro single, Tubthumping, uma mistura impensável de pop radiofônico, pub rock, punk leve e refrão de hino de bêbado, simplesmente explodiu.
A inspiração para o hit veio de uma cena quase cômica: o guitarrista Boff Whalley e sua esposa viram um vizinho cambaleando e cantando Danny Boy enquanto tentava abrir a porta de casa. Ele caiu, levantou, caiu de novo — e conseguiu entrar. Pronto: ali nasceu o hino da persistência.
“A música mudou tudo”, disse o vocalista Dunstan Bruce ao The Guardian. “Não é nossa canção mais política. Mas nos reuniu. E é sobre nós — como classe e como banda.”
E foi mesmo. A música levou o Chumbawamba a palcos que jamais imaginariam. Ficou em #2 no Reino Unido, #2 nos EUA, e transformou Tubthumper num sucesso triplo de platina. Em 1998, no BRIT Awards, o baterista Danbert Nobacon jogou um balde d’água no vice-primeiro-ministro britânico, John Prescott, em apoio à greve dos estivadores. O espírito punk ainda estava ali.
Mas como todo ciclo tem fim, a banda encerrou as atividades em 2012, após 30 anos de música e ativismo. Dunstan virou cineasta e, em 2024, finalizou um documentário sobre a trajetória do grupo — que promete responder tudo aquilo que o refrão de Tubthumping deixou subentendido.
Hoje, o Chumbawamba é lembrado por muitos como uma "banda de um hit só", mas seus integrantes sabem que o legado vai além. Afinal, como disse Whalley:
“A arte existe para ser ouvida. Não me envergonho de Tubthumping. Odeio essa ideia de que sucesso popular é algo vergonhoso. Desça do pedestal!”
E talvez seja esse o verdadeiro espírito Chumbawamba: cair, levantar, cantar alto — e seguir dando voz aos que insistem em resistir.